Iza perdoou a traição. Você perdoaria?
- Bruna de Campos
- 27 de mai.
- 3 min de leitura
Quando a cantora Iza tornou pública a traição de seu então marido — e o fez com a crueza dos prints, da gravidez e da decepção explícita —, a internet fez o que sabe fazer: julgou, condenou, e executou. Mas, semanas depois, veio o gesto que ninguém esperava: ela o perdoou.
Foi aí que o público se dividiu: uns, chocados, disseram que ela se rebaixou. Outros, mais espiritualizados, exaltaram sua capacidade de “transcender em prol da família”. Mas quase ninguém olhou para o que realmente importa: o que, afinal, significa perdoar uma traição?
Vivemos em uma cultura que se diz aberta à sexualidade, mas é quase intransigente à infidelidade — mesmo entre casais que se dizem modernos ou não monogâmicos. Existe um culto velado ao divórcio como forma suprema de amor-próprio. Perdoar, por outro lado, parece coisa de quem ainda não se ama o suficiente.

Mas a infidelidade é um fenômeno muito mais profundo do que uma simples quebra de contrato. É, quase sempre, um colapso da narrativa emocional construída entre duas pessoas. Quando há uma traição, não é só o futuro que se abala. É o passado que desmorona. O beijo que parecia sincero… ainda era? O presente inesperado… foi gesto de amor ou de culpa? A memória, que antes era abrigo, vira campo minado.
É por isso que a raiva costuma ser a protagonista da primeira fase: a crise. Nessa etapa, o cérebro tenta desesperadamente reorganizar as memórias, entender o que foi verdade e o que foi encenação. O traído repete mil vezes a história — para os outros e para si — como quem tenta montar um quebra-cabeça onde, de repente, as peças parecem não caber mais.
Já o infiel, mesmo arrependido, se vê condenado a viver no purgatório do “eu errei, mas não sou esse monstro”. O que machuca agora não é só a dor do outro — é o espelho que ele se tornou. Um espelho que, todos os dias, o faz encarar a sua pior versão.
É por isso que a superação verdadeira não vem de frases prontas, nem de decisões impulsivas. Não adianta dizer que “quem ama perdoa” nem que “traição é falta de caráter”. A infidelidade não é um ato isolado e nem, muito menos, sintoma de que o relacionamento era falido pois “foi procurar na rua o que não tinha em casa". Ela tem motivos (passado), significados (presente) e consequências (futuro). E o perdão, se vier, só pode nascer depois que tudo isso for encarado de frente. Aqui, vale lembrar que, quando iniciamos um relacionamento nos colocamos sempre frente a frente ao outro e, que, com o tempo, passamos a andar lado a lado. Com a descoberta da infidelidade, o lado a lado deixa de existir, voltamos a estar frente a frente.
Como terapeuta de casais, sempre tenho que lembrar que não sou patrulha da moral. Existe um mundo de diferenças entre COMPREENDER e JUSTIFICAR. Não condenar, não quer dizer “aprovar”. Eu apenas sei que, se reduzimos a conversa a um julgamento de valor, não nos resta conversa alguma.
Talvez Iza tenha perdoado não porque esqueceu o que sofreu, mas porque ressignificou o que viveu. Talvez ela tenha entendido que decisões importantes não podem ser tomadas baseadas na sua reação ao fato, mas, sim, com base nos seus sentimentos sobre aquele relacionamento. E talvez a grande pergunta não seja se você perdoaria uma traição… mas o que você faria com a dor de descobri-la. Iza fez a escolha dela.
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