Por que é tão difícil encerrar um caso extraconjugal? Entenda o ciclo do vai e volta
- Bruna de Campos
- 5 de jun.
- 3 min de leitura
A pessoa diz que é a última vez.
Apaga o contato. Troca o número.
Bloqueia. Desbloqueia. Bloqueia de novo.
Chora. Jura que nunca mais.
E, uma semana depois... lá está ela. Na mesma mensagem, no mesmo encontro, no mesmo ciclo.
E não — não é porque não ama a família.
Não é porque está em crise no casamento.
Não é, necessariamente, porque deseja o outro com intensidade avassaladora.
É porque ainda está presa em quem se sente sendo quando trai.
Você não quer mais o outro. Mas ainda quer ser aquele que se sente vivo.
É importante dizer: muita gente sabe que o caso não vai dar em nada.
Que não quer largar o parceiro. Que não quer destruir a família. Que não quer essa bagunça emocional.
Mas continua voltando.
E não é burrice.
Não é falta de vergonha na cara (embora às vezes pareça).
É vício em uma experiência emocional muito específica:
A sensação de escapar da própria previsibilidade.
A transgressão faz o sangue circular mais rápido.
Faz você sentir que ainda tem algo pulsando.
Faz você se ver sob uma luz diferente — desejado, ousado, corajoso, vivo.
Romper com o caso não é apenas cortar o laço com o outro.
É se despedir de uma versão de si mesmo que parecia mais inteira.
O caso termina no telefone, mas continua dentro.

Apagar o contato é fácil.
Difícil é apagar a memória de quem você se tornou naquele contexto.
E, principalmente, entender que o apego não é à pessoa —mas à sensação de ser quem você sente que é quando está com ela.
É por isso que você volta.Não porque ama. Mas porque, por alguns minutos, se reconecta com partes suas que andavam esquecidas.
E por que isso é um problema?
Porque você começa a viver uma ilusão: a de que precisa dessa transgressão para se sentir inteiro.
Quando, na verdade, o que você precisa é reintegrar esse “você mais vivo” à sua vida real.
Isso exige trabalho.
Exige entender o que morreu dentro da sua rotina.
Exige reconstruir admiração, desejo, leveza — em si e no relacionamento.
E não. Isso não se faz com frases de autoajuda.
Nem com promessas vazias de que “agora vai”.
Quer parar de voltar? Então pare de fugir do que esse caso representava.
Se você quer encerrar esse ciclo de vez, aqui vai o começo da solução:
Não lute contra o desejo — entenda o que ele está tentando te dizer.
O que você encontra nessa relação que perdeu em si?
Que parte sua você quer salvar toda vez que volta?
Você quer mesmo aquela pessoa — ou o sentimento de se sentir desejado, visto, excitado, importante?
Enquanto você não encarar isso de frente, vai seguir repetindo o script da última vez… pela quinta vez.
Não é o outro que você precisa largar. É o vício de só se sentir vivo na clandestinidade.
O prazer da transgressão pode ser real.
Mas também pode ser o disfarce de uma morte emocional que você se recusa a olhar.
É possível viver intensamente, sim.
Com desejo, presença e excitação — sem trair.
Mas pra isso, você vai precisar aprender a acessar essa versão sua sem precisar se esconder de quem ama.
Ou de quem você quer ser de verdade.
Leu até o fim? Então você já começou.
(O resto, a gente conversa na terapia.)
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