Por que quem tem tudo também trai? O fascínio da transgressão nos relacionamentos
- Bruna de Campos
- 4 de jun.
- 3 min de leitura
Episódio 2 – O Fascínio da Transgressão: quando até os bons gostam de flertar com o risco
Eles sempre foram os primeiros a chegar e os últimos a sair.
Pagaram boletos em dia, nunca pularam etapas, cumpriram com louvor o roteiro da vida adulta: faculdade, casamento, filhos, plano de saúde, fidelidade.
Orgulho da mãe. Bons cidadãos. Gente decente.
Até que um dia…transgrediram.
E é aí que a pergunta grita: por que alguém que vive uma relação estável, segura e até feliz, entra num caso extraconjugal?
A resposta não é simples — e nem sempre é romântica.
Não é sobre falta de amor, nem sobre desejo incontrolável.
É sobre algo mais primitivo, mais perigoso e, sim, mais sedutor: o gosto de quebrar regras.
O prazer de tocar no proibido, mesmo sabendo que vai queimar

A transgressão tem um sabor que não se explica.
É o flerte com o risco, o arrepio da possibilidade de ser descoberto, a sensação de desafiar as próprias amarras.
Muitos pacientes me relatam que “sabiam que estavam errados, mas não conseguiam parar”.
E não é porque faltava caráter — é porque sobrava conflito.
Lembra da infância?
Esconder o doce, mentir que escovou os dentes, espiar o que não podia.
Pois bem: crescemos, mas nem tanto.
Ainda há, em muitos de nós, o prazer em ser “levemente mal”.
E para quem viveu a vida inteira dentro das regras, ser transgressor pela primeira vez é quase afrodisíaco.
A equação erótica: desejo + obstáculos = emoção
Pierre Morin propõe essa fórmula.
E ela ajuda a entender por que um encontro proibido pode causar mais euforia do que um jantar romântico no casamento.
A tensão, o risco, o esconderijo mental e literal...
Tudo isso aumenta o fluxo de dopamina, e transforma o caso em um palco onde a pessoa não vive o outro — vive a si mesma como nunca antes.
A grande virada: perceber que o difícil não é largar a amante — é largar quem você foi com ela
Muitos traidores dizem: “Eu amo minha esposa. Não quero me separar.”
E dizem isso com sinceridade.
Mas seguem presos à outra relação.
Por quê?
Porque o caso não é só sobre a outra pessoa.
É sobre a versão que você foi ali.
Mais vivo. Mais desejado. Mais corajoso.Às vezes, mais canalha — mas, ao menos, inteiro.
Terminar o caso significa se despedir dessa versão ousada de si.
E isso não se faz da noite para o dia.
É como se ver num motel pela última vez — e saber que está se olhando também pela última vez - já dizia Gusttavo Lima rsrs
A transgressão cria uma identidade temporária. E ela não quer morrer fácil.
Planejar o fim do caso, ensaiar falas, se afastar aos poucos...
Tudo isso é uma forma emocional de ir desmontando a experiência do eu transgressor.
Às vezes, o caso morre com uma conversa.
Às vezes, ele agoniza por meses — até morrer de morte natural, depois de cumprir seu propósito interno.
E aqui entra um ponto delicado: É possível manter uma relação autêntica guardando um segredo como esse?
A resposta não vem em formato de regra.
Já vi confissões abrirem portas incríveis de reconexão.
Mas também já vi verdades mal colocadas deixarem cicatrizes impossíveis de curar.
**Talvez não seja sobre ser canalha, pecador ou doente.
Talvez seja só sobre ser humano — e complexo pra c*ralho.**
A transgressão nem sempre vem da maldade.
Às vezes, ela vem do desejo de sentir que ainda existe algo pulsando.
Algo que fuja da planilha, da previsibilidade, da vida bem vivida, mas mal sentida.
E sim — você pode escolher não agir sobre isso.
Mas negar que esse desejo existe… só torna tudo mais perigoso.
Leu até o fim? Então você já começou.
(O resto, a gente conversa na terapia.)
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